História sem fim
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- História sem fim
CAPÍTULO 1
Judite é a 8ª de dez irmãos, nascidos em um lugarejo chamado Serra e que sempre conviveram com a miséria e a boa vontade de Seu Zico: um sitiante vizinho, um pouco mais abastado que lhes socorria, vez ou outra, com algum quilo de fubá ou feijão. Sr. Juca, patriarca da família, quase não parava em casa. Às quatro da manhã, se punha a caminho do trabalho, munido apenas de uma enxada e sua pequena marmita. Judite, sempre atenta a tudo, gostava de esperar o pai voltar. Ao cair a tarde, do alto de um pé de abacate, a menina se esticava toda para ser a primeira a ver o pai e gritar bem alto para os irmãos, que brincavam de pega-pega, cabra-cega ou boca de forno em frente à pequena casinha de três cômodos. A mãe passava seus dias se dedicando às roupas, comida, cuidar da horta, galinhas, cachorros e às vezes sumia no mato para buscar lenha para o forno e fogão.
A vida não era fácil para ninguém daquela família: Sr. Juca e Dona Diquinha, judiados pelo destino, quase não tinham tempo para os filhos, que cresciam sem carinho e até mesmo sem cuidado algum. Apenas sobreviviam seguindo seus instintos e contando com a sorte. Os mais velhos, cuidavam dos mais novos, os fracos morriam e os que sobraram era como se fosse por milagre. Judite já perdeu vários irmãos com pneumonia, catapora, doença de chagas e até picada de cobra. A vida na roça realmente não era fácil pra ninguém.
Juquinha, o 9º dos irmãos, era levado, bastante maldoso e muito egoísta. Judite não sabia por que sua mãe tinha preferência pelo garoto. Ele não tinha tarefas diárias como os outros, a mãe não lhe chamava a atenção quando errava e muitas vezes a castigava por “atazanar o menino”. Como Judite era apenas um ano mais velha que Juquinha, sempre se engalfinhavam por uma coisa ou outra e por causa disso, a menina estava sempre de castigo: sem brincar, sem jantar… mas o que mais entristecia a pequena Judite, era quando sua mãe a proibia de esperar o pai. Ela tinha que ir pra cama cedo antes que pudesse vê-lo. Aquilo para Judite era o pior castigo que sua mãe poderia dar. Ficar sem ver o pai era muito ruim. Judite gostava do carinho com o qual o pai saudava cada um dos filhos. Mesmo com todo o cansaço, visivelmente percebido todos os dias, Sr. Juca nunca deixou de dar atenção às crianças e mesmo com poucas horas que lhe restavam até escurecer, gastava com os filhos o pouco da energia que lhe restara depois de um dia inteiro de trabalho braçal sob o sol escaldante.
A noite chegava rápido. Na casinha, não havia luz elétrica e como mal tinham dinheiro para comer, não dispunham de sobras para comprar querosene ou velas. O jeito era resolver tudo antes do por do sol e ir pra cama mais cedo.
***
CAPÍTULO 2
Certa manhã, correndo pelo mato com Juquinha, Judite se deparou com uma cobra e, antes mesmo que pudesse pensar em algo, o garoto de oito anos, distraído, saltou sobre o bicho, levando uma mordida no meio da canela. Judite ficou desesperada. Como ia explicar a mãe que não tivera tempo de impedir o acidente?
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