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Arte, coletividade e muita paz de espírito

O tricô, o crochê e o bordado livre, que conserva pontos tradicionais reorganizando os espaços e propondo novos estilos de desenho, têm sido explorados de inúmeras formas na produção artesanal brasileira.

Nas mãos das bordadeiras do bairro Praia, tornaram-se terapia e uma forma de valorizar a cultura. Nas diversas peças que produzem, como colchas, suplás, panos de prato, toalhas e meias de lã, as artesãs trazem para seus bordados todo o seu carinho, história e memória.

O grupo de bordadeiras iniciou suas atividades em meados de 2008, a partir de uma iniciativa da prefeitura, que criou um projeto de cunho social no bairro, disponibilizando professoras para que pudessem ensinar a arte do bordado, do crochê e do tricô.

Com o passar do tempo, as professoras deixaram de participar, mas algumas alunas tomaram frente e começaram a ensinar o que haviam aprendido. Desde então, mais mulheres se juntaram ao grupo e criaram a Cooperativa Sagrado Coração de Jesus. Algumas entraram, outras saíram e, hoje, participam da cooperativa quatorze mulheres: Célia, Lúcia Maria, Maria Alves, Maria Aparecida, Maria da Conceição, Maria da Penha, Maria das Graças, Maria de Jesus (Cota), Maria Geralda (Dona Fia), Maria Izabel, Maria José, Maria Perpétua, Marlene e Vera, que, toda semana, trocam saberes e habilidades, desenvolvendo uma convivência agradável, alegre e produtiva.

“Eu aprendo cada dia mais a importância do artesanato pra unir as pessoas, fazer amigos, aprender com o outro e ensinar também. Aqui a gente aprende a conviver com as pessoas, a ser mais amigo, a ter sensibilidade e companheirismo. Aprendemos o quanto é importante a gente estar em companhia de alguém. Em grupo, somos capazes de sentir amor, amizade, união: esse envolvimento todo que o artesanato traz na vida das pessoas. Aqui eu criei amizades sinceras, que vão ser pra vida toda. Toda terça-feira venho para meu artesanato e sempre volto melhor.”
(Maria Da Penha)

“Participando desse grupo você aprende muitas coisas. Você começa a fazer um trabalho, vê o do outro e fica tão incentivada a querer fazer coisas tão bonitas quanto o do colega. Aqui as horas passam sem a gente perceber, de tão concentradas e atentas ao aprendizado. É muito gratificante. Pra mim é uma terapia. Peço muito a Deus pra Ele continuar nos dando entendimento e disposição para nunca pararmos. Juntas construímos, cada vez mais, esse trabalho tão simples, mas também muito importante na vida de cada uma de nós.”
(Maria Geralda, carinhosamente chamada de Dona Fia)

O objetivo era aprender e ensinar novos pontos, novas técnicas e novas formas de se trabalhar com linha e agulha, mas o que percebemos durante esta reportagem é que estas mulheres fazem muito mais, umas pelas outras: elas dividem suas alegrias, angustias e dificuldades. Semanalmente participam de uma tarde prazerosa em companhia de amigas que ajudam no empodeiramento e fortalecimento mútuo a partir de suas experiências de vida e seus saberes individuais e coletivos.

“Gosto demais de vir pra cá. Eu estava até com depressão, depois que cheguei aqui, melhorei demais. Tomava remédio para dormir e agora não preciso. Gosto muito das colegas. Fiz muitas amizades aqui.”
(Maria da Conceição)

“Esse grupo nosso aqui é uma bênção. Quando não posso vir porque estou na roça, minha cabeça fica aqui. Nesse grupo, tanto a gente trabalha, quanto brinca, conversa, distrai e assim esquece todos os problemas. Encontra com as amigas, aprende e ensina. Aqui não tem líder, somos uma grande família, um grupo onde todos se ajudam.”
(Maria Alves)

Além do tempo que passam bordando e conversando, ainda tem o momento do cafezinho, quando compartilham quitandas e uma boa prosa. A quem se interessar, a Cooperativa Sagrado Coração de Jesus está de portas abertas para receber qualquer pessoa que queira aprender a bordar, fazer crochê ou tricô. Os encontros acontecem toda terça-feira, às 14 horas no salão paroquial da igreja Sagrado Coração de Jesus, no bairro Praia.

4 comentários em “Arte, coletividade e muita paz de espírito”

  1. Afonso Cláudio Damasceno

    Uma iniciativa exitosa que tornou-se uma forma de manter vínculos e afastar as pessoas do risco de ficarem isoladas. A pandemia da atualidade limitou muita coisa, mas revelou outras importantes. O projeto inicial sobreviveu ao longo de tantos anos e revelou sua eficácia como solução imperativa para manter a qualidade de vida dessas exímias bordadeiras.

  2. Maria da Penha Martins Figueiredo

    A reportagem ficou maravilhosa. Você enriqueceu o nosso trabalho com uma delicadeza nas palavras que me deixou emocionada e muito feliz. Me fez sentir mais inspirada a dar continuidade ao nosso trabalho.

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