Sempre passei minhas férias na fazenda da minha vó. Tinha moinho d’água, engenho…
… adorávamos o dia de fazer rapadura!
Para começar, levantávamos cedo, de madrugada, para ver o cavalo puxar os paus, que faziam rodar o moinho de moer cana. A garapa saía por um coxo feito de madeira…
… devia ter uns 100 anos aquele coxo. Meu pai e meu tio se revezavam para colocar as canas por entre a engenhoca. Depois íamos todos para a “coberta da taxa”, onde um enorme taxo de cobre recebia a garapa com uma enorme fogueira sob ele. Aquilo fervilhava o dia todo. Se tinha mais algum ingrediente, não sei. Nunca procurei saber. À tardinha, alguém ia retirando, com uma concha gigante, aquele creme marrom da taxa e jogando em um imenso coxo, também feito de madeira. — Nosso caixão do Conde Drácula. — Uma terceira pessoa, com uma colher de pau bem grande, batia aquela mistura, sem parar. Para saber se estava bom, era preciso pingar um pouco daquele creme em uma cabaça com água fria e ver se dava liga. Pronto! Havia chegado a nossa hora: “a hora do ponto”. A minha mãe fazia questão de nos colocar em uma enorme fila para experimentar o ponto. Pacientemente ela retirava o creme da cabaça e colocava na boca de cada um de nós. Eu nunca gostei do sabor da rapadura, mas pela farra de pegar aquela fila eu me metia no meio daquele “empurra, empurra” só pra ter o gostinho de chegar lá na frente. Na minha vez, dizia: “Num quero grande não, mãe!”. Aquela festa durava só alguns minutos, senão a rapadura passava do ponto. Mas era o suficiente para satisfazer a todos nós, que esperávamos o dia todo por aquele momento.
Hoje, do que mais tenho saudade é do gosto da água daquela cabaça.
Muito legal relembrar esses acontecimentos.Parabéns pela iniciativa.
Ainda sinto o gosto da mão de vó na minha boca.